Belloni: o escultor que moldou a identidade uruguaia

Uma rota composta por três circuitos em Montevidéu em torno de José Belloni foi incorporada à oferta de turismo cultural uruguaio: um no bairro Ciudad Vieja; outro em Paso Molino e Prado; e um terceiro em Tres Cruces, Parque Batlle e Parque Rodó, todos lugares emblemáticos ligados ao artista e locais de interesse histórico e turístico.

São três conceitos que, nas palavras de seu neto, José Alverto Belloni, o definem como um “escultor profundamente conceitual no pensamento; naturalista na execução, com uma leve tendência à estilização”.

Ele produziu mais de 1.500 esculturas durante sua vida, sem contar suas pinturas e aquarelas. A rota do artista também será projetada em outros departamentos do país e, no futuro, será gerada uma rota internacional, levando em conta que suas obras estão presentes em diferentes partes do mundo, como Argentina, Brasil, Suíça, Itália, Espanha, Estados Unidos, França, entre outras nações. Um exemplo disso é o mármore do General Artigas localizado na Gallery of Heroes em Washington, uma réplica do The Wagon na Casa Branca, entre outros.

ORIGEM

Filho de um jardineiro suíço e de uma mãe basca espanhola, ele nasceu no Uruguai em 12 de setembro de 1882 na casa de campo do poeta Aurélio Berro, em El Paso del Molino, Montevidéu, e morreu na mesma cidade em 1965.

Aos oito anos de idade, viajou com seu pai Giuseppe para a Suíça. Lá, ele se formou como artista e conheceu seu mentor, o escultor Luigi Vassalli, que o orientou e o treinou em várias técnicas.

Em 1909, retornou ao Uruguai para se candidatar a uma bolsa de estudos de escultura no velho continente, o que lhe permitiu aperfeiçoar seus estudos na Europa, na Academia Real de Munique e, posteriormente, na Escola de Belas Artes de Roma. Seu talento e seus estudos o levaram a ser distinguido com vários prêmios, ministrou aulas de moldagem e seu trabalho ultrapassou fronteiras.

Ao término de sua bolsa de estudos, retornou a Montevidéu, onde foi nomeado pela Comissão do Círculo Fomento de Belas Artes para dirigir as aulas de modelagem e desenho ornamental, cargo que ocupou até 1914, sendo posteriormente nomeado diretor do mesmo Círculo.

ESCULTOR DA PÁTRIA”

“José Belloni devolveu ao seu povo o que o povo havia investido nele por meio de sua arte. Ele foi o escultor da pátria, mas também o artista da igualdade de classes e dos direitos humanos. Seu legado representa nossa identidade e nossas origens como povo oriental”, acrescentou.

Quanto à sua personalidade, José era um homem de “caráter alegre, que tinha uma relação de cumplicidade com sua família e netos”, lembra seu neto.

Entre sua vasta obra, destaca-se o monumento a “La Carreta”, localizado no Parque Batlle y Ordoñez, uma das obras mais admiráveis do gênero escultórico, que alcançou fama universal, assim como “La Diligencia”, localizada no Prado, uma obra de características semelhantes à anterior.

A escultura La Carreta, embora seu esboço tenha sido montado em miniatura em Montevidéu, foi concluída em Florença, na Itália, pois naquela época não havia fundições em toda a América que permitissem a realização de uma obra de tal magnitude, explicou seu neto.

Ele também é o autor de algumas das figuras decorativas no Salón de los Pasos Perdidos do Palácio Legislativo e dos baixos-relevos do brasão nacional na antecâmara da Câmara dos Senadores.

O escultor Belloni acreditava acima de tudo na natureza, nos direitos do homem, na igualdade de gêneros e raças e em um mundo mais equilibrado entre o espiritual e o material. Ele conseguiu capturar tudo isso em suas esculturas, o que torna difícil classificá-las de acordo com as tendências usuais.

CIRCUITO DA CIDADE VELHA

1) Catedral de Montevidéu (Plaza Constitución) – Em 1947, o artista projetou as esculturas para a remodelação do frontão da Iglesia Matriz, incluindo as figuras de 3,50 metros de altura da Virgem e dos santos padroeiros da cidade (San Felipe e Santiago); os dois anjos anexados às torres e o tímpano central de concreto com Jesus e seus discípulos.

2) Teatro Solís (Buenos Aires 678) – Baixo-relevo encomendado ao artista pela Sociedad Uruguaya de Autores em 1919, em homenagem ao dramaturgo Florencio Sánchez, consistindo em duas placas de bronze emolduradas em mármore rosa, com os ícones de “Tragédia” e “Comédia”, localizadas no saguão do centro cultural.

3) Monumento a Juan Manuel Blanes (Buenos Aires, entre Juncal e Liniers) – Produzida em 1948, ela homenageia o chamado “Pintor da Pátria Uruguaia”, por retratar com sua paleta os atos mais importantes da consolidação do processo de independência nacional.

4) Monumento ao Barão de Mauá (Rambla Gran Bretaña e Ciudadela) – É uma obra de dimensões importantes em granito rosa, em homenagem a Irineo Evangelista de Souza, um importante financista e empresário brasileiro que atuou no Uruguai na segunda metade do século XIX. O busto de bronze do escultor nortista Rodolfo Bernardelli complementa a obra.

5) Monumento “El Entrevero” – Praça Juan P. Fabini (Avenida 18 de Julio entre Río Negro e Julio Herrera y Obes) – Essa obra, inaugurada em 1967, após a morte do artista dois anos antes, relembra em bronze os combates de nossas guerras de Independência e os conflitos civis no Uruguai, homenageando o humilde soldado, defensor de um ideal, representado pelo gaúcho, o negro, o branco e o índio.

Veja a rota completa da Belloni aqui!

+ info: www.museobelloni.com/